sábado, 8 de setembro de 2007

A Mulher Negra Guerreira está morta...


Há poucas horas, enquanto lutava com a realidade de ser humana e não um mito, a mulher negra guerreira faleceu.
Fontes médicas afirmam que ela morreu de causas naturais, mas os que a conheceram sabem que ela morreu por ficar em silêncio quando deveria ter gritado; por sorrir quando deveria ter liberado sua fúria; e por esconder sua doença para não incomodar a ninguém com sua dor.

Ela morreu de overdose de gente em suas costas quando não tinha energia nem para si mesma. Ela morreu de tanto amar homens que não amavam a eles próprios e que a única coisa que lhe davam em troca era um reflexo distorcido. Ela morreu por criar filhos sozinha e por não poder fazer todo o serviço.

Ela morreu por causa das mentiras sobre a vida, os homens e racismos que sua avó contou à sua mãe e sua mãe lhe contou. Ela morreu por ser sexualmente molestada quando criança e por ter que carregar a verdade consigo pelo resto da vida, trocando sempre a humilhação por culpa.

Ela morreu de tanto ser espancada por alguém que dizia amá-la, e ela permitia que o espancamento continuasse para mostrar que também amava esse alguém. Ela morreu de asfixia, cuspindo sangue por causa dos segredos que guardava tentando abafá-los em vez de se permitir a crise de nervos que lhe era de direito – mas que só as mulheres brancas podem se dar ao luxo de ter.

Ela morreu de tanto ser responsável, porque ela era o último degrau de uma escada sem apoios e não havia ninguém que pudesse ampará-la. A mulher negra guerreira está morta. Morreu por causa dos tantos partos de crianças que ela na verdade nunca quis, mas que a moral estranguladora dos que a cercam obrigou-a a ter. Ela morreu por ter sido mãe aos 15, avó aos 30 e um antepassado aos 45.

Ela morreu por ter sido derrubada e tiranizada por mulheres não-evoluídas que se diziam sisters, companheiras. Ela morreu por fingir que a vida que levava no século XXI era um momento Kodak e não um pesadelo pós-escravidão. Ela morreu por tolerar qualquer zé mané só para ter um homem em casa. Ela morreu por falta de orgasmos, porque nunca soube de suas reais capacidades.

Ela morreu por causa dos joelhos dolorosamente comprimidos um contra o outro, porque respeito nunca fez parte das preliminares sexuais que lhe eram impostas. Ela morreu por causa da solidão nas salas de parto e abandono do nas clínicas de aborto. Ela morreu por causa da comoção nos tribunais onde sentava-se, sozinha, vendo seus filhos serem legalmente linchados.

Ela morreu nos banheiros com as veias irreversivelmente abertas pelo descaso geral e pelo ódio que sentia por si mesma. Ela teve morte cerebral combatendo a vida, o racismo, os homens, enquanto seu corpo era arrastado para um matadouro humano para ser espiritualmente mutilado.

E algumas vezes quando se recusou a morrer, quando apenas se recusou a entregar os pontos, ela foi assassinada pelas imagens fatais de cabelos loiros, olhos azuis e bundas chapadas, quando foi rejeitada pelos Pelés, Djavans e Ronaldinhos da vida.

Às vezes, ela era arrastada para a morte pelo racismo e pelo sexismo, executada pela ignorância hi-tech enquanto carregava a família na barriga, a comunidade na cabeça e a raça nas costas. A escandalosa mulher guerreira sem voz está morta!!!!!! Ou Ela Está Viva, E Se Mexendo??????

Eu sei que eu ainda estou aqui. E você? Está se sentindo viva? Companheira... cuide-se!
Tradução do texto The Strong Black Woman is Dead, de autora desconhecida.
Foto: Nairobi Enclave: Kenya Fall 2005. Fonte: http://www.quilombodospalmares.org.br/

Nenhum comentário: