
Parte I - O primeiro contato com o país do oeste africano e com as integrantes do II Programa de Treinamento do YOWLI -Young Women's Leadership and Knowledge Institute -, que busca instrumentalizar e capacitar jovens em relação aos direitos econômicos e sociais para as mulheres
Três táxis enfileirados em uma rua estreita de mão única. Os taxistas do lado de fora dos carros. As malas no chão, uma mistura de terra e asfalto, acumuladas ao redor dos carros. Mais malas do que passageiros. Melhor dizendo, passageiras. O suposto era que as malas acompanhassem suas donas pra evitar confusão. Mas a confusão já estava armada. Duas passageiras pra cada carro era um tamanho desperdício: espaço nos bancos sobrando em contraposição a porta-malas lotados.
Meia hora de negociação, o primeiro taxista, irredutível, se enfurece, tira todas as malas do interior do seu carro e vai embora, reclamando em wolof, a língua tradicional mais falada no Senegal. Outro táxi é chamado. O meu táxi avança e toma o lugar do primeiro táxi da fila. “Quem vai pagar?”, ele me pergunta. Digo que é a mulher que está fora, ele sai do carro e vai averiguar com ela. Depois do pagamento garantido, dá partida. “Ligação marítima Dakar-Gorée” é o destino. A última embarcação do dia sairia dali a meia hora. As “brasileiras” já estavam na capital senegalesa havia três dias, a espera de outras jovens que, de pouco em pouco, desembarcavam no aeroporto Leópold Senghor. No caminho, o taxista faz comentários. “Ali é o ponto final do transporte público que leva para os bairros mais periféricos”, apontando para mulheres, homens, crianças, que se acumulavam ao redor de ônibus coloridos. “Ali é o mercado”. “Ali é o estádio de futebol”.
No trajeto até a ilha, o sol começa a se pôr. Eram quase oito da noite. Na embarcação, ainda sem nos conhecermos todas, novos rostos foram se juntando às recém apresentadas Yowlees que participariam do II Programa de Treinamento do YOWLI (Young Women's Leadership and Knowlegde Institute) que, desta vez, seria na Ilha de Gorée.
Desembarque. As malas foram se acumulando à espera de auxílio para serem carregadas. Carrinhos de ferro esperavam por braços que os viessem manejar. Aos poucos, homens e rapazes iam chegando e saindo, empilhando malas e manobrando os carrinhos. Sem pressa, eu contemplava o “semblante” da ilha, que era o que se via na penumbra da iluminação pouca do lugar. E pensava no significado daquele momento: o encontro de jovens de diferentes países africanos e de países da diáspora para tratarem de questões relativas a Direitos Humanos - principalmente, de direitos da mulher e de africanos e seus descendentes -, no lugar que foi um dos três maiores entrepostos de tráfico de seres humanos oriundos do continente africano, que foram levados dali, oceano Atlântico afora, por mais de trezentos anos. Aquele mesmo amontoado de água que circundava a terra que agora estava sob nossos pés serviu de via para inúmeras viagens sem volta. Beira o indescritível a sensação de pisar em Gorée para quem tem naquele lugar um pedaço de sua própria história...
Erica Ferreira, Liliane Braga, Priscila Pinto Ferreira, Viviane Coelho de Jesus foram as Yowlees brasileiras selecionadas para participar do programa de formação em questão, que neste ano conta com a participação de quase 70 mulheres e oito homens de 36 países. Mafoane Odara, a quinta Yowlee brasileira e única a participar da primeira edição do curso realizado em 2006, chegou na quinta-feira (02/07) à Gorée. Ela veio participar dessa edição como uma das facilitadoras.
O lugar escolhido para a realização do YOWLI 2008 foi a Escola Mariama Ba, internato para garotas talentosas e único do Senegal a oferecer educação gratuita em tempo integral a jovens do país.
Quando chegamos lá, a divisão dos quartos já estava feita. A proposta foi que nenhuma das Yowlees ficasse com colegas do mesmo país. Na porta dos quartos, os nomes das meninas que ocupam os dormitórios no decorrer do ano letivo. Entre as Yowlees, algumas são alunas reais do colégio, adolescentes de 16 e 17 anos. No dia seguinte a nossa chegada lá, uma delas, de nome Assatou, conversa comigo em inglês e me diz que, na escola, aprende o idioma desde os 5 anos de idade.
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